Qual o melhor início de livro de todos os tempos?
Eu ia fazer uma coluna falando sobre os melhores começos de romance de toda as história. Ia selecionar dez, citando, em primeiro lugar, “Metamorfose”, de Franz Kafka, que eu adoro. Mas venero também a supresa no final do primeiro parágrafo de “Grande Sertão: Veredas”, de Guimarães Rosa, e respeito o mito de que Gabriel García Marquez reescreveu mais de 400 vezes a primeira página de “Cem Anos de Solidão”. Mas aí encontrei a bela matéria de Carlos William Leite na revista Bula. Ele já fez o trabalho e melhor do que eu conseguiria.
Listou as dez primeiras linhas de 15 romances:
“Moby Dick”, de Herman Melville; “Notas do Subsolo”, de Dostoiévski; “O Complexo de Portnoy”, de Philip Roth; “A Lua Vem da Ásia”, de Campos de Carvalho; “O Apanhador no Campo de Centeio”, de J.D. Salinger; “O Amanuense Belmiro”, de Cyro dos Anjos; “Dom Casmurro”, de Machado de Assis; “Anna Karênina”, de Tolstói; “O Ventre”, de Carlos Heitor Cony; “Lolita”, de Nabokov; “O Jardim do Diabo”, de Luis Fernando Verissimo e “Dom Quixote”, de Miguel de Cervantes.
Eu convido os leitores a me dizer qual destes inícios eles preferem. Eu escolhi um, para ler aqui. Para puxar a sardinha pro nosso lado, escolhi o montesclarense Cyro dos Anjos, nascido em 1906, como seu maravilhoso “O Amanuense Belmiro”:
“Ali pelo oitavo chope, chegamos à conclusão de que todos os problemas eram insolúveis. Florêncio propôs, então, um nono, argumentando que outro copo talvez trouxesse a solução geral. Éramos quatro ou cinco, em torno de pequena mesa de ferro, no bar do Parque. Alegre véspera de Natal! As mulatas iam e vinham, com requebros, sorrindo dengosamente para os soldados do Regimento de Cavalaria. No caramanchão, outras dançavam maxixe com pretos reforçados, enquanto um cabra gordo, de melenas, fazia a vitrola funcionar.”
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